quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DIA DO AUTOR BRASILEIRO NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE FAFE

Numa louvável iniciativa de grande interesse para os estudantes, a Escola Secundária de Fafe, através dos professores Carlos Afonso, Rosinda Leite e Augusto Lemos, promoveu a evocação do Dia do Autor Brasileiro, ao longo de todo o dia desta quarta-feira. Nele participaram largas dezenas de alunos dos 11º e 12º anos, sobretudo da área da Língua Portuguesa. Estes cantaram, dançaram, leram poesia de autores do lado de lá do Atlântico, teatralizaram diálogos entre personagens portuguesas e brasileiras.
Tive o privilégio de participar, de manhã, na sessão que contou com a presença da directora, Dra. Natália Correia, dos organizadores e da Dra. Isabel Pinto Bastos, que falou sobre Cecília Meireles (Augusto Lemos também teceu rasgados elogios à obra Olhai os Lírios do Campo, de Erico Veríssimo).
Fui convidado a dissertar sobre o tema "Fafe dos Brasileiros". Lembrei a longa emigração de fafenses para o Brasil, desde o século XVIII e em especial entre a segunda metade do século seguinte e os anos trinta do século XX, e realcei o rico legado que os brasileiros ricos, no seu retorno, deixaram na cidade, desde a criação das primeiras grandes indústrias (Fábricas do Bugio, em 1873 e do Ferro, em 1886), a promoção da Misericórdia (1862) e do Hospital de S. José (1863), a criação do Asilos para meninas desvalidas (1877) e para inválidos (1906), fundados, respectivamente, pelos brasileiros António Joaquim Vieira Montenegro e Manoel Baptista Maia, a intervenção no Jardim do Calvário (1892) e no arranque da Igreja Nova (1895), entre outros.
Mas a maior herança foi marcada na grandiosidade, beleza, ostentação e singularidade dos palacetes e casas apalaçadas que os emigrantes fafenses, regressados de Vera Cruz, implantaram, às dezenas, na então Vila de Fafe e que constituem hoje a mais emblemática arquitectura da cidade, uma autêntica "capital dos brasileiros", com as suas amplas varandas de ferro, as suas fachadas azulejadas, as suas belíssimas clarabóias encimadas por cata-ventos. Uma palavra ainda para monumentalidade funerária como símbolo da distinção social dos brasileiros: demonstravam a sua riqueza em vida, também queriam sobressair nos cemitérios, com as altas colunas de granito encimadas pelos respectivos bustos.
Abordei ainda a homenagem que Fafe promoveu ao Brasil, outorgando nomes de ruas e avenidas à terra-irmã (Praça do Brasil, Avenida do Brasil, Parque Cidade de Porto Seguro...) e enumerei alguns brasileiros ilustres descendentes de fafenses, como os que refiro a seguir:
Afonso Augusto Moreira de Pena – Presidente da República (1906-1909) – neto materno do fafense José Gonçalves Moreira (Moreira do Rei)
Jucelino Kubitschek de Oliveira - Presidente da República (1956-1961) – descendente por via paterna de Pio de Oliveira (Freitas)
Álvaro Siza Vieira – um dos dez melhores arquitectos do mundo – neto paterno de um emigrante de Vila Cova
António Carlos Magalhães – governador da Bahia, senador estadual e ministro – neto de José Maria Peixoto de Magalhães (Medelo)
Ailton Fernandes - vice-ministro da Agricultura do Brasil – filho de Artur Fernandes da Silva (Travassós).
Finalmente, abordei um desses descendentes mais eméritos, este na área da literatura. Falo do escritor João Ubaldo Ribeiro, Prémio Camões 2008, amigo de Jorge Amado, habitante da Bahía, considerado porventura o maior escritor brasileiro da actualidade. Era neto do fafense João Ribeiro, que abalou para a cidade de Penedo, Estado de Alagoas, no Brasil, nos primeiros anos do século XX, meio deportado pela família, porque engravidara uma vizinha solteira numa das aldeias de Fafe e que chegou a gerente de uma fábrica têxtil, pertencente a uns portugueses amigos da família. Por lá ficou.

Ubaldo Ribeiro, autor de uma obra já vasta e com diversos prémios coleccionados, além de três casamentos, é, pois, neto de um minhoto de Fafe.
Há uma década atrás, João Ubaldo esteve no Porto a apresentar A Casa dos Budas Ditosos, que vendeu só no nosso país, em pouco mais de dois meses, mais de 13 000 exemplares e cuja comercialização foi na altura proibida por duas cadeias de hipermercados, por alegada ofensa ao pudor. Na ocasião, estivemos com o escritor que fez questão de recordar o seu avô fafense, uma pessoa adorável, que lhe dava dinheiro para livros, revistas e guloseimas. João Ubaldo gostava muito do avô, grande companheiro de infância, amigo e confidente, pessoa culta e, incrivelmente, para um brasileiro, leitor apaixonado de Camilo e Guerra Junqueiro. Afiançava mesmo que lhe deve muito, talvez até a carreira de escritor, sendo que o seu avô considerava que só tinha direito ao estatuto de escritor aquele que escrevia livros que davam para pôr de pé. Por isso, João Ubaldo, certamente em sua memória e vincando a sua legitimidade de (grande) escritor, publicou Viva o Povo Brasileiro, um romance histórico com perto de 700 páginas e seguramente a sua melhor e mais conhecida obra literária, considerada já um clássico da literatura brasileira contemporânea.
O escritor é autor de um bom número de obras nas áreas do romance, do conto, do ensaio e da crónica. Está traduzido em alemão, dinamarquês, espanhol, francês, hebraico, inglês, italiano, jugoslavo e sueco e é titular de honrosos prémios literários. Diversas obras suas foram adaptadas para o cinema e para televisão.

1 comentário:

Luísa disse...

Forte aplauso a estes sempre activos senhores do ensino!Sorte de quem pelas mãos lhe passa, ou melhor dizendo, sorte de quem com eles aprende e deleria pelos ensinamentos que partilham com os seus alunos!
Esta homenagem aos autores que brilha(ra)m para além do Atlântico é digna de gente de bem.De gente que cresce com o brilho dos outros.
Dr.ª Rosinda Leite, um beijinho enorme pelas lições que consigo aprendi!
Um bem haja a todos os que fazem do bailado das letras a melhor dança de salão!