domingo, 31 de outubro de 2010

HOSPITAL À BEIRA DO COMA PROFUNDO

O semanário Notícias de Guimarães desta sexta-feira titula, na primeira página, “Centro Hospitalar do Alto Ave – Hospital Senhora de Oliveira e S. José (Fafe) à beira do coma profundo”. A uma primeira leitura, o assunto é de molde a preocupar qualquer cidadão que habite na região servida por aquela unidade hospitalar.
Numa das páginas interiores, são relatadas as preocupações (sob anonimato, obviamente, porque ninguém quer dar a cara nesta democracia incompleta…) de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar e administrativo) do Centro Hospitalar, que descrevem a situação como estando “à beira do coma profundo”.
Denunciam que “começa a faltar tudo”, fraldas, esponjas para limpar os doentes, agulhas, compressas, paracetamol, até o oxigénio começa a faltar.
E a propósito, é referido que “no hospital de Fafe já foram adiadas cirurgias por não haver oxigénio”.
Como é costume em situações que tais, a administração chuta para canto e garante que está tudo bem, como se os profissionais de saúde tivessem como desporto favorito vir para os jornais nomear situações inexistentes. É dos catecismos...
Por seu turno, o nosso Correio de Fafe noticia, no mesmo dia, que o “Hospital de Fafe só realiza operações que não carecem de internamento”. Os casos mais complicados passaram para Guimarães.
Como rebuçado, para acrescentar à recém-criada Unidade de Cirurgia Ambulatória, prometem para Novembro a consulta externa em três novas especialidades: Imunoalergologia, Urologia e Ginecologia. Meros paliativos que se ganham, obviamente, que não fazem esquecer o muito que se tem perdido.
O Hospital de Fafe, que historicamente foi um marco referencial na área da saúde para o nosso município e para a região de Basto, um orgulho para os fafenses, um hospital de dimensão e bem apetrechado, foi perdendo valências, serviços e competências, além de pessoal, sendo sucessivamente desertificado e é hoje em dia pouco mais que uma extensão do centro de saúde. Não fora a existência de internamento em medicina, que ainda persiste, embora com vida incerta, ao que se presume, e os meios auxiliares de diagnóstico, o Hospital de Fafe pouco passava de um mero centro de saúde. Perdeu diversos serviços ao longo dos últimos anos e muito recentemente foi desertificado das unidades de cirurgia e ortopedia. É pouco menos que um fantasma erguido num casarão que já foi grande. Até a autonomia de um mero número de telefone o nosso (dito) Hospital perdeu: hoje, ainda que se esteja no centro da cidade de Fafe, a 200 metros do Hospital, quem quiser contactar com o mesmo tem de ligar a Guimarães, que transfere a chamada para Fafe.
Uma tristeza, sem dúvida, quando deveria ser reforçado para melhor servir a população fafense e a de Basto! Um país descentralizado assim aconselharia... Mas a política actual é absolutamente centralista, como se sabe, embora não se assuma e ainda que acene a regionalização lá para as calendas gregas...
Como fafense, e vistas as notícias deste fim-de-semana, que não constituem qualquer novidade, de resto, só posso estar profundamente inquieto e inseguro quanto à instituição de saúde que me pode valer em caso de doença. Uma diarreia, curo-a alegremente no centro de saúde, durante o dia; uma dor de barriga, trato-a em duas penadas no Hospital, durante a noite.
Para um caso mais complicado, e que espero nunca me acometa, já sei que tenho guia de marcha para o pomposamente designado (mais pompa que serviço…) Centro Hospitalar do Alto Ave, onde me arrisco a esperar uma dezena de horas, no mínimo, pelo atendimento. As urgências estão congestionadas, porque aí acorrem centenas de milhares de pessoas de toda a região. Ao contrário do que prometeram os políticos centrais quando esvaziaram o Hospital de Fafe, o de Guimarães não sofreu aumento de instalações nem de recursos materiais e humanos, pelo menos dos que trabalham com os doentes, ao que se ouve.
O que parece é que o esvaziamento e desertificação dos hospitais públicos pretende "empurrar" os utentes para os hospitais privados e para os seguros de saúde. Porque importa poupar na factura da saúde, para mais num tempo de crise que os doentes e acidentados não provocaram.
Chama-se a esta mascarada "garantia e reforço do Estado Social"!...

3 comentários:

Anónimo disse...

È lamentavel a situação que se vive no hospital de Fafe.
Todos sabemos que estamos a perder qualidade nos serviços de saúde,mas assistir ao esvaziamento desta unidade hospitalar é o pior que nos pode acontecer. De dia para dia, vão acabando várias valências e a população só se apercebe quando precisa e acaba por ser informada de que as mesmas já não existem. Como é possivel trabalhar num local onde ao que parece está tudo a saque? O nosso hospital servia e muito bem a população de Fafe, Basto e arredores.Sempre teve excelentes profissionais de saúde, (médicos, enfermeiros, pessoal auxilar e demais trabalhadores)que muito trabalharm para cuidarem todos aqueles que pouca saúde tinham. Tantas pessoas foram tão bem tratadas neste hospital. Gostaria de perguntar aos politicos locais, onde estão as promessas que fizeram durante a campanha eleitoral, sobre o funcionamento do hospital e sobre a qualidade dos serviços. Já esqueceram?
É triste assistir a tudo isto com tamanha passividade de todos aqueles que têm responsabilidades politicas.....

Luísa disse...

Dr. Coimbra,
vejo que tem um seguidor anónimo que só comenta quando o post se prende com assuntos da vida política...
Não seria simpático esse comentador começar a assinar os comentários?
"É triste assistir a tudo isto com tamanha passividade de todos aqueles que têm responsabilidades" cívicas!
É só a minha singela opinião...

ARTUR COIMBRA disse...

Cara Dra. Luísa: é verdade que as pessoas se devem, por princípio, assumir, responsabilizando-se, cara a cara, por aquilo que escrevem. Eu só escrevo, seja onde for, aquilo que assino. Não há cá anonimatos para ninguém...
Contudo, no meu blogue, tenho uma democracia elástica. Desde que os comentários não sejam ofensivos ou caluniadores de quem quer que seja, na minha perspectiva, dou ordem para a sua publicação.
O que não significa que concorde com os respectivos conteúdos. Nem tenho de concordar... Aí é que está a democracia. Mas concordo que a grandeza de qualquer atitude cívica está na assunção plena dos respectivos actos, logo, da respectiva identidade.