sábado, 4 de dezembro de 2010

FRANCISCO SÁ CARNEIRO: O QUE É DEMAIS JÁ CHEGA!

Há exactamente 30 anos, no dia 4 de Dezembro de 1980, morria o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro e o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, mais as suas mulheres e outras três pessoas, quando a avioneta Cessna C421 em que viajavam para o Porto (em campanha eleitoral para as presidenciais desse ano, que deram a vitória a Ramalho Eanes) se despenhou em Camarate, às portas de Lisboa. Sucessivas comissões de inquérito ao caso, não conseguiram concluir pela tese de atentado, tão cara a algumas pessoas deste país, desde o momento em que sucedeu e ao longo destas três décadas.
Nos últimos dias tem-se voltado a falar profusamente de Sá Carneiro, da sua vida e da sua morte. Saíram livros biográficos, artigos em jornais e revistas, editaram-se programas de televisão. Ninguém fica sem relembrar um lamentável acidente que ceifou a vida a dois governantes ainda jovens (Sá Carneiro tinha 46 anos e Amaro da Costa, apenas 37…).
Sá Carneiro era uma figura simultaneamente amada e odiada. Fazia por isso. E ainda hoje a sua memória é controversa, quase intocável para muitos dos seus apaniguados.
Não tendo nada contra a sua vida e pensamento, não consigo vislumbrar a desproporcionada importância que lhe tem sido concedida, compreensível pelos seus correligionários “laranjas”, que deixou órfãos, mas exagerada para a História.
Sá Carneiro integrou, a convite de Marcelo Caetano, a “ala liberal” da Assembleia Nacional marcelista, a partir de 1969. Mas também Miller Guerra, Mota Amaral, Magalhães Mota e Francisco Balsemão a integraram, e ninguém os valoriza exorbitantemente por isso. Corporizaram um acto de coragem política, sem dúvida, mas pouco menos que inconsequente… Mais importante foi o trabalho revolucionário e “subversivo”, de combate às instituições fascistas, que outros responsáveis políticos e os militares levaram a cabo para que o 25 de Abril fosse realidade.
Em Maio de 1974, fundou o então Partido Popular Democrático, que depois mudou o nome para Partido Social-democrata. Foi ministro-adjunto de Palma Carlos, no primeiro governo provisório e voltaria ao poder, em 1979, no âmbito da Aliança Democrática e para levar avante o triplo objectivo: “uma maioria, um governo, um presidente”. Conseguiu os primeiros dois alvos; não logrou fazer eleger o débil candidato Soares Carneiro em 7 de Dezembro de 1980. Faleceu três dias antes…
Como primeiro-ministro, francamente, que obra material estruturante e duradoura ficou de Francisco Sá Carneiro, que justifique tamanho estardalhaço e até o nome de um aeroporto que nunca deveria ter mudado de designação?
Não vejo onde esteja a importância nacional do seu consulado governativo. O defeito deve ser seguramente meu, mas já há exactamente trinta anos pensava o mesmo, como pode ser confirmado na imprensa local.
Mas como este país é um alfobre de surpresas e de lágrimas de crocodilo, não custa a admitir que se continuará a venerar Sá Carneiro nos próximos trinta anos, enquanto outras comissões e outros comissários não derem por findo o seu trabalho de provar o atentado de Camarate!...

Sem comentários: