terça-feira, 1 de novembro de 2011

Hoje foi um dia de eternidade


Fui hoje visitar os meus familiares e os meus amigos que, em diferentes momentos, bateram as asas em direcção ao oriente da vida. Em primeiro lugar, o meu pai, que há dois anos me deixou sem que me tivesse pedido desculpa de se querer ir embora. Partiu sem se despedir de mim, quase como um nevoeiro que se dissipa de súbito, de encontro à luz. É difícil perdoar quem assim nos abandona ao Outono irreparável, às lágrimas que não é possível delegar, aos soluços que são a outra maneira de dizermos
o quanto amamos.
Há quem chame eternidade a esse lugar onde todos um dia teimamos habitar, como se não houvesse outro nome para ocuparmos o coração da história. Sim, eternidade é cada momento em que não conseguimos esquecer os que nos são mais queridos e que jamais morrerão, enquanto a sua imagem, o seu rosto, o seu exemplo, as suas palavras, a sua mundividência, o seu amor, a sua alma, demorarem em nós, como uma chama, um orvalho, um cristal.
Depositámos flores nos seus túmulos de vida, acendemos velas de um vermelho de sangue, chorámos, pelo menos interiormente. Partilhámos mais um dia com quem faz parte da nossa identidade, e fará, a menos que a doença do esquecimento e da desmemória ataquem o cerne dos nossos dias. Hoje regressei a casa de meu pai, comi um pouco de rosca com queijo, que já há muito não encontrava, bebi um sumo (não havia a adorada cerveja). Hoje revi os meus amigos, desfiámos recordações, falámos de livros, acertámos projectos para o próximo ano. Foi um dia em cheio.
Boa noite! Vou com o perfume aceso das memórias!

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