quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Hospital de Fafe a caminho da extinção?

A notícia do JN de terça-feira (que acima se retrata) sobre a não renovação do contrato com vários médicos que prestam serviço na urgência do Hospital de Fafe, hoje dito do Centro Hospitalar do Alto Ave (CHAA), que põe em causa o próprio funcionamento da urgência básica, seria de molde a inquietar e a revoltar toda uma população, se não vivêssemos demasiadamente anestesiados e narcotizados por políticas extremistas que tolhem qualquer movimento de insurreição. O que se lamenta vivamente, porque é absolutamente legítimo que as populações lutem pela manutenção dos serviços a que têm direito, pelas formas que entendam mais adequadas.
As informações que por aí circulam não são nada animadoras: já há muito que a administração do Centro Hospitalar tem vindo, com manifesto prejuízo das populações, a desertificar a unidade de Fafe, tornando-o praticamente uma nulidade do ponto de vista da assistência às populações de Fafe e de Basto, computadas em cerca de 100 000 pessoas.
Fala-se mesmo em que o Ministério da Saúde estará a procurar devolver o edifício à Santa Casa da Misericórdia, sua proprietária, antes da construção de um novo hospital que estará cada vez mais comprometido, pela própria situação financeira do país. São boatos (ou não), desmentidos pelas autoridades, mas que devem preocupar os fafenses.
Para além do mais, não é nada reconfortante uma “boca” mandada para a comunicação social por um membro da comissão de reestruturação da rede hospitalar, no sentido da extinção da urgência básica de Fafe.
São coincidências a mais, para não terem subjacente uma lógica exterminadora de um hospital que tem perto de século e meio de existência (abriu oficialmente em 1863) e que já prestou serviços relevantes às populações da região.
Por esta altura, a mesquinha e rasteira política economicista dos últimos governos, incluindo o actual, bem como a falta de vontade da administração do CHAA em descentralizar os serviços, reforçando a unidade de Fafe, para melhor servir milhares de pessoas, conduzem, lamentavelmente, a um afunilamento do atendimento do Hospital Nossa Senhora de Oliveira, que não responde minimamente às solicitações, levando a que os utentes estejam depositados na sala de espera da urgência horas e horas.
Quando esvaziaram o Hospital de Fafe dos seus serviços, prometeram reforçar a urgência e os serviços da unidade de Guimarães. O certo é que, ao contrário, acabaram (na prática) com o Hospital de Fafe e não acrescentaram mais valias de qualidade a Guimarães. Ficou-se tudo pela “conversa da treta”, como vem sendo costume nesta choldra de país.
Se isso é servir com qualidade as populações, o melhor é mesmo emigrar, como propõe um lastimável secretário de estado como política de juventude deste governo!...
No meio de toda esta lástima, o que surpreende é a quietude, a passividade, a deserção, a resignação das populações prejudicadas, sobretudo as de mais fracos recursos económicos, porque os poderosos vão para os hospitais privados.
Custa a crer que o 25 de Abril tenha sido feito para isto!...

4 comentários:

Aponte disse...

Tenha calma, não se enerve, olhe que ainda vai parar ao hospital (ao privado de Guimarães, o mais provável).

Anónimo disse...

Ora aqui está um texto que interessa a todos nós.
Se a urgência vai fechar, é de lamentar, na medida em que Fafe, mais uma vez sai a perder. Já perdemos tantas coisas e possivelmente vamos perder mais esta que é tão util e necessária para todas as pessoas. A população devia sair à rua e mostrar o seu descontentamento face a estas noticias. Espero bem que não aconteça o mesmo, como quando foi dos outros serviços. Ou seja,acabaram e ponto final.Gostaria de deixar um alerta aos politicos locais e perguntar-lhes, afinal o povo votou em vocês,para quê? Mexam-se pois essa é a vossa obrigação.

ARTUR COIMBRA disse...

Sobre o comentário de "Aponte" (o quê?), não consigo perceber como é que perante tão negras e nefastas perspectivas se pode apelar à calma. Só se fizer parte do "sistema", que até há pouco era um e agora... ainda é o mesmo. Esta atitude de deixar andar é que tem dado na desertificação dos serviços em Fafe, sem apelo nem agravo. O que não se tem verificado em outros locais do país.
Aquela do hospital privado de Guimarães, não percebo. Nunca lá estive como paciente, nem vontade tenho de o frequentar!
Deve haver aí algum engano!...

João Coimbra disse...

Do ponto de vista técnico e científico faz todo o sentido a cessação de actividades técnicas especializadas. Num mesmo centro hospitalar, como é o caso, a conjugação da massa crítica em torno de especialidades e subespecialidades faz elevar grandemente os indicadores de qualidade (além dos recursos). Num hospital de menor dimensão têm de existir serviços de diferenciação, mas de resposta alargada, como cuidados continuados, paliativos e, por exemplo, medicina interna. Especialidades diferenciadas devem, isso sim, ter consulta externa nessas unidades diminuindo as deslocações dos utentes.
Quanto à urgência básica a conversa é outra. Fafe tem uma cobertura total de Médicos de Família, mas não existiu ainda uma modificação dos utentes que não os leve a recorrer a um serviço hospitalar (na maioria das vezes) por motivos que poderiam resolver ao nível dos cuidados de saúde primários.
Não sendo a favor do encerramento da urgência, também não sou a favor da manutenção de serviços pouco diferenciados - do ponto de vista técnico, científico e qualitativo -, autênticos faz-tudo na acção (os doentes ficam a perder, de facto).