segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Grande espectáculo de variedades assinalou “requiem” pelo Estúdio Fénix

1. O Estúdio Fénix quase lotou para aquele que foi o seu último espectáculo, promovido e protagonizado pelo Grupo Nun’Álvares que, curiosamente, tinha sido o primeiro a pisar o pequeno palco da altura, depois ampliado.
Ao longo de mais de duas horas, a maior referência cultural associativa da cidade apresentou exibições do Coral Santo Condestável, rábulas de teatro de revista, pelos jovens do Teatro Vitrine, muita e boa música, poesia e até a actuação das meninas (e um menino) da patinagem artística.
Como fio condutor, tivemos um Orlando Alves em grande, na arte como no improviso. E até deu para debitar (por duas vezes) uma bela poesia alusiva ao Estúdio Fénix.
Um excelente espectáculo, animado, divertido, arrancado com grande paixão pelas dezenas de intervenientes, para homenagear aquela que foi durante 25 anos a única sala de espectáculos de Fafe e que o Nun’Álvares quis homenagear na altura em que se anuncia o seu fim. E nada melhor que o hino de Fafe para colocar um ponto final na vida de uma sala que seguramente ficará na memória dos fafenses!”…
Além das palavras amigas e já saudosas dos nunalvaristas, de salientar também as intervenções do actual presidente da direcção dos Bombeiros, Pedro Frazão e do seu antecessor, José Manuel Domingues, para evidenciar a importância da sala para a cultura fafense, mas sobretudo para a corporação.
Um momento em grande, com a valiosa e criativa prata de casa, testemunhado por perto de três centenas de fafenses.
Não se podia desejar mais e melhor neste “requiem” do Fénix: uma bela sala desenhada pelo artista António Santana, com excelente acústica e grande comodidade das cadeiras!


2. Ninguém o recordou, mas não me fica remorso nenhum em relembrá-lo, apesar de ser juiz em causa própria: a vida que durante cerca de 25 anos foi dada ao Estúdio Fénix (até à reabertura do Teatro-Cinema, em Abril de 2009) passou por mim, como programador cultural da autarquia. A imensa maioria dos espectáculos de todo o género que lá foram realizados, da música ao teatro e à dança, da apresentação de obras literárias à organização de conferências, jornadas e colóquios, tiveram a ver com a animação cultural da Câmara Municipal, da qual sou responsável.
Tive o privilégio de ser o “programador principal”, passe a expressão, do Estúdio Fénix, durante mais de duas décadas.
Praticamente todas as semanas, a sala era ocupada com animação promovida ou patrocinada pela autarquia, nas mais diversas áreas artísticas.
Por isso, o Estúdio Fénix me diz muito, como não podia deixar de ser. Foi um pouco a minha casa de fim-de-semana (como agora é o Teatro-Cinema), como responsável pelos espectáculos que lá se realizavam e eram da iniciativa da autarquia.
Claro que foram, na imensa maioria, momentos felizes os que ali se viveram, apesar de algumas contingências logísticas derivadas de uma sala que não estava originalmente destinada a espectáculos. Primeira, seria um ginásio para a corporação; depois, seria uma sala de cinema.
Os momentos felizes ficarão perpetuados na minha memória, como no imaginário colectivo dos fafenses de várias gerações!...
Saudades, Estúdio Fénix!

3. Como tudo na vida, há o nascer, o crescer e o morrer!...
É o que está a suceder ao Estúdio Fénix, inaugurado em Maio de 1984, logo, com 27 anos de existência.
Durante muitos anos, como se sabe, a Câmara Municipal foi apoiando financeiramente os Bombeiros para a utilização da sala, o que aconteceu até 2010.
A partir dessa altura e por muitas saudades e afectos que a sala possa justamente suscitar (e seguramente suscita em todos), impôs-se uma realidade objectiva: não era mais sustentável manter a sala em funcionamento.
O Estúdio estava anquilosado, a necessitar de obras de fundo, computadas em milhares de euros, que os Bombeiros não tinham. E outro dado se impôs: a diminuta utilização da sala. Após a abertura do Teatro-Cinema, o Estúdio Fénix tem meia dúzia de utilizações durante o ano, a maioria gratuitas. Como é possível manter uma sala aberta com tão escassa procura e nenhuma rendibilidade?
Veja-se também a questão de um ponto de vista financeiro. Não era possível manter por mais tempo a sala, porque manifestamente inviável, apesar das memórias e dos “bons momentos” lá vividos pelos fafenses no último quarto de século!…
A questão não pode ser encarada apenas do ponto de vista sentimental. Ninguém vive de recordações!...
A partir de agora, os dados estão lançados, no âmbito do projecto de requalificação do quartel, que está em obra. O Estúdio Fénix “renascerá” numa outra utilização, sempre ao serviço de Fafe e das suas gentes.
A “alma” estará lá; o rosto é que será diferente!

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