segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fafenses nas rotas de Aquilino Ribeiro

Comitiva frente à Igreja Românica de Sernancelhe
Cerca de meia centena de fafenses, de diversas proveniências sociais e culturais, responderam ao amável convite do amigo Carlos Afonso para um passeio cultural pelas “terras do Demo”, ou seja, uma viagem pelo percurso da vida e obra do notável e resistente escritor Aquilino Ribeiro (1885-1963), infelizmente hoje esquecido e quase ignorado, autor de obras imortais como O Malhadinhas, Cinco Reis de Gente, Andam Faunos pelos Bosques, A Via Sinuosa, Jardim das Tormentas, A Casa Grande de Romarigães e Quando os Lobos Uivam, entre muitas outras (publicou mais de sete dezenas de livros). A iniciativa tem também o apoio do Núcleo de Artes e Letras de Fafe, tendo alguns associados integrado a comitiva.
Partimos pelas 7h00 da manhã deste sábado, 26 de Maio, em Fafe chovia, mas na alma ecoavam as palavras sábias de Aquilino, escritas em 1952:

Eu sou um artista rude, filho da minha terra. Nasce-se com berço às costas como uma geba. A Beira Alta não tem símile no Mundo. Em poucas dezenas de quilómetros reproduz-se a terra toda: amenidade e braveza, a colina e o vale, a civilização e a selvajaria.

Ainda parámos na área de serviço do Alvão, mas o destino era mesmo Carregal, a aldeia do concelho de Sernancelhe, onde nasceu Aquilino Ribeiro, em 13 de Setembro de 1885. Aqui estamos a meio da manhã, em plena Beira Alta, neste concelho, com 222 km2, e apenas 17 freguesias e 6 000 habitantes.
O Carlos Afonso vai dando dicas sobre o que vamos encontrar e o Augusto Lemos, na sua lendária sabedoria, sintoniza-nos sobre a vida e obra de Aquilino, lendo excertos de obras conhecidas de um autor hoje quase desconhecido. Injustamente desconhecido e ignorado. Sinal dos tempos estúpidos e ignorantes, que são estes de liberalismos, troikas e outras imbecilidades educacionais. De agora e dos últimos anos.
Ah, “Terras do Demo”, explica proficientemente Augusto Lemos: compreende os municípios de Sernancelhe, Moimenta da Beira e Vila Nova de Paiva, ligados umbilicalmente à vida e obra de Aquilino.
Em Carregal visitámos então a casa onde nasceu Aquilino Ribeiro.
Casa onde nasceu Aquilino Ribeiro, em Carregal, Sernancelhe

Foto: Fernando Gomes

Visitámos depois o Santuário de Nossa Senhora da Lapa (séc. XVI-XVII) e o Colégio anexo, onde Aquilino estudou, no quarto nº 33, e em cuja janela se inspirou durante anos para a factura dos seus primeiros romances.
  
O cronista à porta do quarto nº 33 onde estudou Aquilino (Foto: Fernando Gomes)
No santuário, os presentes ouviram falar da lenda da Senhora da Lapa (a original, e de que irradiaram as várias Senhoras da Lapa, em Portugal e no estrangeiro), que vem do século XV e das interessantes cenas bíblicas que se encontram no seu interior.

Colégio da Lapa, onde estudou Aquilino
Visitou-se depois o pelourinho e o Museu do Santuário, onde se encontra uma belíssima colecção de ex-votos.
Foto: Fernando Gomes
 Após o almoço típico, com cabrito assado e cozido à terras do demo, participámos na conferência “Cinco Reis de Gente – a infância no Carregal”, por Paulo Neto, director da revista literária do município de Sernancelhe Aquilino, na Biblioteca Municipal. Soberba, simplesmente, a passar em revista as primeiras fases da vida de Aquilino, perante uma plateia interessada, onde pontificavam convidados de Fafe mas também naturais de Sernancelhe e as próprias autoridades locais (Presidente da autarquia, vereadores e técnicos municipais)! Ao vereador da cultura, deixámos um conjunto de publicações de Fafe para a Biblioteca Municipal da acolhedora Vila!


Acabámos ainda por visitar, já ao final da tarde, a belíssima Igreja Românica de Sernancelhe, do século XII, que é a igreja paroquial da vila, com extraordinários motivos artísticos de interesse a nível de pintura e escultura, numa visita guiada pelo simpático arcipreste Cândido Azevedo, que tem o seu nome ligado ao museu anexo, que visitámos em último lugar, com antigas pedras tumulares e riquíssimas alfaias religiosas.
Igreja Românica de Sernancelhe

Museu Paroquial Padre Cândido

Ao final da tarde, dissemos adeus à terra natal de Aquilino Ribeiro, na véspera do dia em que passavam 49 anos do inesperado falecimento daquele que foi um das maiores escritores do século XX português (ele deixou a vida física em 27 de Maio de 1963)...
Deixámos as Beiras, da castanha, da penedia, da cereja, para regressarmos ao Minho, que nos encanta a alma de verde, de calor e de festa!
Uma excelente visita organizada pelo Carlos Afonso, que se segue a anteriores passeios culturais dedicados a Camilo, Torga e Trindade Coelho, e nos quais tivemos o privilégio de participar. 

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