sábado, 31 de março de 2012

Uma cabra no cemitério é mais importante que milhares de pessoas a fruir cultura!...

As III Jornadas Literárias, que culminaram na noite de sábado passado com um inolvidável espectáculo da Academia de Música José Atalaya, envolvendo cerca de três centenas de músicos e de coralistas, após uma tarde camiliana que juntou em Paços umas quantas centenas de fafenses, constituíram, sem sombra de dúvidas e sem receio de julgar em causa própria, um dos acontecimentos culturais maiores da história de Fafe.
Foram duas semanas intensas de actividades culturais que se desenrolaram na cidade, a que se acrescentam os eventos levados a cabo em praticamente todas as freguesias ao longo de um mês, envolvendo as autarquias e as colectividades e instituições locais, num recriar de paixões e de tradições a todos os títulos notável! O momento alto foi o
A cultura espalhou o seu perfume de encanto e magia por todo o concelho. E toda a população a viveu e recriou superiormente. Magistralmente!
O evento movimentou milhares de pessoas, num vasto conjunto de iniciativas, que resultam de uma parceria entre a Câmara Municipal de Fafe e todas as escolas e agrupamentos do concelho, além do movimento associativo e da grande maioria das juntas de freguesia, numa conjugação de esforços de tanta gente e de tantas escolas e instituições do concelho que só nos pode orgulhar. Estas Jornadas fizeram história, indubitavelmente. Pelo número e envolvimento de tanta gente e tantos parceiros, em tantos momentos fantásticos de criação e recriação colectiva.
O momento alto das Jornadas aconteceu na tarde de domingo, 18 de março, quando milhares de pessoas, incluindo 4 mil figurantes, apesar do tempo instável, encheram as ruas da cidade para assistirem ou participarem na recriação da vinda do Rei D. Carlos I a Fafe. Foi um momento vibrante de bairrismo, de esplendor da cultura, de paixão das freguesias pelos seus valores e potencialidades, através de esplêndidas mostras etnográficas. Juntas de freguesia, associações e populares deram vida, cor e conteúdo à memória do que Fafe tem de melhor!
Perante este panorama resta uma absoluta mágoa: a ausência de cobertura mediática das Jornadas, que não correspondeu minimamente à importância social e cultural que granjearam.
Custa a acreditar no estado lastimável da nossa comunicação social, hoje em dia. Um conjunto de eventos com a relevância referida e que os fafenses reconhecem, não mereceu uma única linha de diários como o JN, o DN ou o Público, e até dos regionais, com excepção do Diário do Minho, que cobriu a encenação da vinda do rei. De resto, zero. Televisões, nem vê-las. Até o Porto Canal, que até ao Júlio Magalhães cobria esta região e aparecia na cidade frequentemente, não põe cá os pés!...
É triste e frustrante ter de o admitir. Custa a engolir a pobreza e estreiteza do critério editorial do jornalismo actual, que privilegia o crime, a negatividade, o sangue, o sexo, as taras, o insólito. Uma cabra que entra no cemitério de Fareja, é notícia nos jornais e reportagem nas televisões. Um imbecil que se lembra de atacar a educadora de um jardim-de-infância de Lisboa, por uma brincadeira envolvendo o “pau ao gato” e o nome de um clube da capital, merece parangonas na imprensa e reportagem nas televisões, ouvindo o idiota, que não tem outro nome (aliás, quem lhe dá cobertura mediática também não merece outro designativo). Um acontecimento que congrega milhares de pessoas, como as Jornadas Literárias de Fafe, em torno da cultura, da educação e das tradições, da marca “Fafe dos Brasileiros”, não merece uma só linha. Não tenho pejo em considerar que esta ausência de notícias espelha claramente o estado mental deste país e que é ulceroso. A comunicação social nacional (é dessa que estamos a falar, porque a local vai fazendo o que pode…) nos nossos dias é absolutamente miserável, repugnante, tendo apenas como objectivo o aumento das audiências ou a venda do papel. Apenas lhe interessa o que “vende”, o que dá lucro, o que aumenta os “shares”. O “voyeurismo”, a devassa, os casos de polícia, de política e dos tribunais, a miséria humana, o grotesco, o excêntrico.
O que acaba por não admirar por aí além, embora não seja aceitável: porque a comunicação social oferece o que um país inculto quer beber. Não é essa a sua função, obviamente, porque o jornalismo tem obrigação de ser um instrumento de elevação humana e cultural, e não do seu rebaixamento. Mas todos sabemos que actualmente o que manda são os imperativos económicos, os jogos da bolsa, as acções.
Um país positivo, em que se evidenciam as qualidades e potencialidades dos indivíduos e das comunidades, um país em festa, com as manifestações da sua criatividade, de identidade, de cultura e tradição, não interessa nada para a comunicação social.
Definitivamente o que é bom, belo e positivo não “vende”. Logo, não existe!...

(Publicado no Povo de Fafe desta sexta-feira, 30 de Março, na rubrica "Escrita em Dia")

quinta-feira, 29 de março de 2012

100 Poemas para Albano Martins – antologia a lançar esta sexta-feira no Porto


A nossa editora de afectos, a Labirinto, comete mais uma fantástica proeza editorial com o lançamento da colectânea 100 Poemas para Albano Martins, o qual acontece festivamente na Fundação Eng. António de Almeida, no Porto, esta sexta-feira à noite.
A obra é apresentada pelo ensaísta e escritor Fernando Guimarães e conta com a presença do homenageado, poeta maior das letras portuguesas das últimas décadas.
A obra é coordenada pela escritora Maria do Sameiro Barroso e tem prefácio do maior pensador português da actualidade, Eduardo Lourenço.
Participam poetas portugueses, brasileiros e espanhóis, muitos deles de nomeada (José Manuel Mendes, Manuel Alegre, Ramos Rosa, José Jorge Letria, Ana Luísa Amaral, Fernando Pinto do Amaral, Casimiro de Brito, Rebordão Navarro e tantos outros, que seria fastidioso enumerar. São uma centena!).
Fafe está representado por três poetas: João Ricardo Lopes, Pompeu Miguel Martins e o signatário.
Participo com o poema seguinte, feito expressamente para a antologia, o que muito me honra e desvanece.

Despedida

Já não moro no poema.
Sem hastes, asas, sorrisos,
A água deixou de correr pelas cascatas,
Os violinos não investem
Qualquer música pelos teus olhos
Circulares, infindos, finais

Nem os barcos sequer zarpam
Das noites de te querer
Com todos os beijos no cio

O azul não interroga o céu
Conjugado com as estrelas
Para te escrever na mais luminosa
Das páginas
Torna-se difícil suportar
Esta ausência de estátua
Vertical, cruel, quase eterna

As palavras deixaram de dizer
A fidelidade das bocas
Ao canto das madrugadas
O suave incesto das fontes
Por dentro do teu coração
Em flor, súplica e rio

Não me resta mais que o redondo das uvas
A roda-viva das abelhas
O branco da cal e das almas
Para te compor
Como só o meu passado te consegue
Feliz, solar, cristalina

Quer dizer, absolutamente
divina!


quarta-feira, 28 de março de 2012

Vitorino canta no Teatro-Cinema de Fafe a 14 de Abril no âmbito dos “Concertos Íntimos”

Vitorino
A programação do Teatro-Cinema de Fafe para o mês de Abril é dominada pelo espectáculo do cantor Vitorino, que se realiza no dia 14, a partir das 21h30.
É o segundo espetáculo do projecto “Concertos Íntimos”, que arrancou com a atuação de Áurea em final de Fevereiro.
Os bilhetes (10 euros) para este espetáculo estão à venda no Posto de Turismo, a partir de domingo, 1 de abril.
Falar de Vitorino é falar de um dos maiores cantautores do nosso país. Vitorino tem uma carreira Ímpar, já com mais de 30 obras discográficas editadas.
Foi companheiro de canções de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho; fez parte de projetos como Rio Grande e Lua Extravagante, juntamente com Rui Veloso, Tim, Jorge Palma, Janita Salomé e João Gil.
Vitorino tem cantado pelo mundo com vários projetos a nível internacional em países como Cuba, Argentina, sendo considerado dos cantores portugueses com mais prestígio.
Foi dos poucos artistas a ser condecorado cavaleiro da Ordem da Liberdade por um Presidente da República pelo seu percurso artístico.
Vitorino ficará para sempre na história da música portuguesa.

Músicos:
Piano e teclados – Sérgio Costa
Bateria – Rui Alves
Guitarra – Carlos Salomé
Saxofones – Daniel Salomé


Outros espectáculos em Abril

A programação de Abril prossegue no dia 21, com o XV Concerto de Primavera organizado pelo Grupo Nun’Álvares e que conta com a participação do Coral Santo Condestável (Fafe), Coral Anduriña (Coruxo, Vigo) e Orfeão Egas Moniz (Avanca, Estarreja).
Coral Santo Condestável
Em 24 de Abril, realiza-se o espectáculo “Cantar Abril”, em que serão interpretadas canções de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Francisco Fanhais, José Mário Branco, Fausto Bordalo Dias e Sérgio Godinho, por um conjunto de músicos liderados pelo fafense Carlos Cunha (Voz e Viola) e que integra ainda Tiago Simões (Orquestração – Teclado), José Silva (Viola Baixo), José Duarte (Viola Solo) e Mário Gonçalves  (Bateria), contando ainda com a colaboração dos convidados Professor Artur Costa (Teclado) e Andreia Oliveira.
Carlos Cunha
De realçar ainda um espectáculo multicultural (teatro e variedades), a 27 de Abril, da iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural Leões do Ferro e que tem em vista comemorar o Dia Mundial da Dança.
Finalmente, em 28 e 29, realiza-se o VI Concurso Luso-Espanhol de Guitarra, promovido pela Academia de Música José Atalaya.

terça-feira, 27 de março de 2012

SANTOS & PECADORES ESTE SÁBADO À NOITE NO PAVILHÃO MULTIUSOS DE FAFE

É já este sábado à noite (22h00) o primeiro concerto da nova iniciativa da Câmara de Fafe voltada para a juventude do concelho, sob a designação genérica “Justice Fafe Fest – Música com Causas” e que consiste na organização de três grandes concertos/festa, no Pavilhão Multiusos, trazendo a Fafe bandas de renome nacional e internacional, num formato de concerto.
O primeiro espectáculo traz ao público fafense, pela primeira vez, os Santos & Pecadores (31 de Março), uma das bandas mais carismáticas do panorama musical nacional. Após o concerto, o Pavilhão Multiusos transforma-se num grande salão de festas para dar lugar a um espetáculo com DJ’s convidados, promovendo o convívio entre os participantes.
Os bilhetes para este espetáculo estão à venda no Posto de Turismo e, à hora do concerto, na bilheteira do Pavilhão Multiusos.
De referir que a autarquia decidiu oferecer a todos os alunos do 11º e 12º ano do ensino secundário (Escola Secundária e Escola Profissional) um ingresso, a sortear para um dos concertos do Multiusos. Além dos Santos & Pecadores, vão passar por aquele espaço os Moonspell (22 de Junho) e os Fingertips (28 de Setembro).
Uma segunda vertente do projecto, consiste na organização nas freguesias de Arões, Revelhe e Silvares do Festival de Bandas Emergentes, visando trazer às freguesias bandas locais, nacionais e internacionais, potenciando a oferta de cultura fora da cidade.
O primeiro concerto é já em 20 de Abril, no pavilhão da EB2,3 de Arões, onde actuam os Muzzle (Fafe), os Tulipa (VN Gaia) e os Darwin Hipnoise (Vila Franca de Xira).
Bom proveito para os jovens fafenses!

III Jornadas Literárias de Fafe foram fabulosas!



·        Lamentável a ausência de cobertura mediática do evento

As III Jornadas Literárias de Fafe terminaram, na noite de sábado passado, com um notável espectáculo de encerramento, no Teatro-Cinema, sob o título “As Palavras e o Tempo”, durante o qual intervieram a orquestra de sopros e os coros básico, complementar e de pais da Academia de Música José Atalaya, num total de cerca de 300 pessoas, sob a direcção musical de José Ricardo Freitas.
Foram executadas, nesse soberbo concerto de qualidade, a fantasia sinfónica “Don Quixote de la Mancha” e “Alma, Cantata Op. 23)”, de homenagem ao poeta Manuel Alegre.
Foi o culminar de duas semanas intensas de actividades culturais que se desenrolaram na cidade, a que se acrescentam os eventos levados a cabo em praticamente todas as freguesias ao longo de um mês, envolvendo as autarquias e as colectividades e instituições locais, num recriar de paixões a todos os títulos louvável!
Na ocasião, como parte integrante da comissão organizadora, tive oportunidade de considerar quer as Jornadas correram da melhor forma. O concelho esteve em movimento neste último mês, que não só nas duas mais recentes semanas.
A cultura espalhou o seu perfume de encanto e magia por todo o concelho. E toda a população a viveu e recriou superiormente. Magistralmente!
As III Jornadas Literárias de Fafe desenrolaram-se entre os dias 09 e 24 de março, movimentando milhares de pessoas, num vasto conjunto de iniciativas, que resultam de uma parceria entre a Câmara Municipal de Fafe e todas as escolas e agrupamentos do concelho, dos vários graus de ensino, além do movimento associativo e da grande maioria das juntas de freguesia.
A organização orgulha-se de acentuar a conjugação de esforços de tanta gente e de tantas escolas e instituições do concelho. Estas Jornadas fizeram história. Pelo número e envolvimento de tanta gente e tantos parceiros.
O presidente da Câmara, José Ribeiro, na sessão de encerramento, considerou “fantásticas e relevantes estas Jornadas, que superaram claramente as expectativas”, ao movimentarem todo o concelho “como nunca antes se vira”, criando, assim, fortes responsabilidades para a próxima edição das Jornadas, que já foi anunciada.

O único lamento, foi para a ausência de cobertura mediática das Jornadas, que não correspondeu minimamente à importância social e cultural que granjearam.
A terceira edição deste evento arrancou com um grandioso espectáculo, com a participação de mais de 1500 crianças e jovens, de escolas e instituições diversas, a que assistiu, em representação do Ministério da Educação, o escritor Fernando Pinto do Amaral, Comissário do Plano Nacional de Leitura.


De destacar ainda – em mais de duas dezenas de acções, desde espectáculos musicais e de teatro à apresentação de obras literárias e encenações diversas – a recriação epocal “Com Fafe ninguém Fanfe”, relativa às elites económicas, sociais e culturais mais relevantes da época “Fafe dos Brasileiros” (segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX).


O momento alto das Jornadas aconteceu na tarde de domingo, 18 de março, quando milhares de pessoas, incluindo 4 mil figurantes, apesar do tempo instável, encheram as ruas da cidade para assistirem ou participarem na recriação da vinda do Rei D. Carlos I a Fafe, acontecida há 105 anos, em 1907.
Foi um momento vibrante de bairrismo, de esplendor da cultura, de paixão das freguesias pelos seus valores e potencialidades, através de esplêndidas mostras etnográficas. Juntas de freguesia, associações e populares deram vida, cor e conteúdo à memória do que Fafe tem de melhor!


A segunda semana das Jornadas, foi mais voltada para o público escolar, com atividades nas próprias escolas em torno de autores escolhidos, espectáculos de teatro e outras realizações.
Destaque mereceu o Dia Mundial da Poesia, que incluiu um grande espectáculo no Teatro-Cinema, com poesia, música e dança, e durante o qual foi lançada uma colectânea de textos de estudantes das escolas do concelho e entregues prémios literários a outros jovens. O actor brasileiro Gracindo Júnior esteve presente e participou no evento.
As III Jornadas englobaram ainda uma ação de formação para professores e outros interessados, bem como a inauguração do percurso pedestre “Os Caminhos de Camilo”, com partida e chegada à Casa do Ermo, em Paços, na tarde de sábado (ver post anterior).

Estamos todos de parabéns!
A autarquia, que emparceirou e financiou os eventos. Uma palavra de reconhecimento ao Presidente da Câmara e ao Vereador da Cultura que abraçaram a aventura, desde o seu início!
As escolas, que colaboraram com inexcedível entusiasmo e viveram as Jornadas com múltiplas iniciativas!
As Juntas de Freguesia, associações e instituições, que não se pouparam a esforços para apresentarem o melhor que têm e sabem!
De parabéns está a equipa organizadora, que incluiu os professores Carlos Afonso, Paulo Teixeira, Maria José Cerdeira, Fátima Caldeira e Etelvina Castro, além do signatário.
Mas também todos os colegas que colaboraram activamente na organização do programa nas várias escolas e agrupamentos.
Todos merecem os maiores agradecimentos.
Como também a Escola Profissional, pelo grafismo desta e das anteriores Jornadas (muitos parabéns ao criativo Pedro Teixeira), e pela reportagem fotográfica e de vídeo.
E a todas as associações e instituições que colaboraram nos vários espectáculos e iniciativas: Academia de Música (grande Carla Lopes!...), Escola de Bailado, AAPAEIF, Grupo Nun’Álvares, Leões do Ferro, Rancho Folclórico de Fafe, Jardim-de-infância Montelongo, Restauradores da Granja, e tantas outras.
E todas as Juntas e agremiações que recriaram a História nas suas freguesias e a trouxeram à cidade na majestosa encenação de domingo 18 de março!...
As Jornadas são e foram milhares e milhares de pessoas em movimento cultural e educativo.
Bem-haja a todas, individual e colectivamente!...

Fotos: Manuel Meira Correia!

segunda-feira, 26 de março de 2012

PERCURSO CAMILIANO MOTIVOU CENTENAS DE PESSOAS



Após um almoço camiliano realizado no parque de lazer de Pardelhas, apoiado pela Junta de Freguesia de Fafe e envolvendo os participantes na ação de formação, no âmbito das III Jornadas Literárias, na tarde do passado sábado, centenas de pessoas rumaram à Quinta do Ermo, em Paços, onde foi feita a recriação de trechos camilianos e percorrido, com emoção, o caminho camiliano.
Os Restauradores da Granja delinearam o percurso e colaboraram na encenação de páginas da obra Memórias do Cárcere, em que Camilo Castelo Branco relata a sua chegada e estadia na casa do Ermo, do seu amigo José Cardoso Vieira de Castro, entre Junho e Julho de 1860.
As Juntas de Freguesia de Paços e de Golães esmeraram-se na reconstituição da pacata vida rural de há décadas atrás. Ao longo do trajecto que nos levou do Ermo à Ponte do Barroco, e regresso à casa dos Vieiras de Castro, pudemos deliciar-nos com a reconstituição das principais actividades agrícolas da região, como a poda, a lavra e sementeira das terras, as ceifas, as colheitas, as malhadas do milho e do centeio, a confecção dos artigos em palha (chapéus e outros artefactos), o artesanato, os trajes dos fidalgos e do povo, as brincadeiras das crianças daqueles tempos, entre muitos outros motivos de interesse e de regalo para os olhos e para a memória dos mais velhos, e aprendizagem dos mais novos.
Também as danças e a festa não foram esquecidas, por acção do Rancho Folclórico de Paços, que tão bem se houve no caminho e, ao final da tarde, na eira do Ermo.
De parabéns estão todos os que se empenharam nesta fabulosa reconstituição histórica: as Juntas de Freguesia, os Restauradores da Granja, os extraordinários figurantes das personagens Camilo Castelo Branco, José Cardoso Vieira de Castro e sua esposa Claudina Guimarães (com excelentes encenações quer no Ermo, quer no Barroco), o grande animador Carlos Afonso e tantos outros colaboradores.
Tive a honra de apresentar algumas considerações sobre as relações, na vida e na literatura, entre o então proprietário da casa, José Cardoso Vieira de Castro, a sua vida desventurada em busca da glória e o seu amigo Camilo, que aqui esteve fugido à justiça, pelo crime de adultério com Ana Plácido, com base nas páginas que o grande romancista de Ceide nos legou. Quer nas Memórias do Cárcere, quer nos Mistérios de Fafe, obra maior da bibliografia camiliana, quer nas conhecidas comédias teatrais em torno do Morgado de Fafe.
Uma tarde inesquecível, que honrou as Jornadas Literárias de Fafe e enriqueceu extraordinariamente quem a elas teve o privilégio de assistir.
Aqui ficam algumas fotos destes momentos de magia, pela máquina do Jesus Martinho!





























sábado, 24 de março de 2012

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA FAFE ESTÁ A COMEMORAR 150 ANOS


Estatutos ou Compromisso da Santa Casa da Misericórdia de Fafe
Com uma sessão solene no Lar Cónego Leite de Araújo, abriram esta sexta-feira à tarde as comemorações do 150º aniversário da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Fafe. Além da provedora, Maria das Dores Ribeiro João, estiveram presentes o dr. António Marques Mendes, presidente da Assembleia-geral; o dr. José Ribeiro, presidente da Câmara; o dr. Parcídio Summavielle, ex-presidente da autarquia e familiar dos fundadores, entre outras personalidades locais e muitos convidados.
Na ocasião, o jovem investigador Daniel Bastos fez uma brilhante síntese histórica da fundação e existência da instituição, ligando-a aos “brasileiros de torna-viagem” que foram, de facto, quem impulsionou quer o Hospital, quer a Santa Casa da Misericórdia.
A verdade é que a existência da Santa Casa da Misericórdia de Fafe confunde-se, durante mais de um século, com a do Hospital de S. José, já que aquela foi criada inicialmente com o objectivo de o gerir, no sentido mais lato do termo. Apenas em 1975, os caminhos da Misericórdia e do Hospital se separaram, por força de um decreto polémico que nacionalizou os hospitais das Misericórdias.
Os emigrantes fafenses no Brasil enviaram capitais para a construção do Hospital, a partir de 1858/59, mas exigiram igualmente a formação de uma Irmandade que tomasse conta dos destinos daquele, quando estivesse pronto a funcionar.
A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Vila de Fafe foi assim instituída em 23 de Março de 1862. Exactamente há século e meio. Na sua criação estiveram envolvidos o vice-presidente da comissão António José da Silva e Castro, os vogais José Joaquim de Oliveira e António d’Almeida e Sá e o secretário José Florêncio Soares, que seria mais tarde provedor.
Hospital da Misericórdia de Fafe
O Compromisso ou Estatutos da Santa Casa da Misericordia da Villa de Fafe foram aprovados e confirmados por Carta Régia de El-Rei D. Luís I, em 23 de Maio de 1862.
O documento integra catorze capítulos e 86 artigos. O artigo inicial estabelece desde logo os objectivos gerais da Irmandade e especificamente a sua acção no domínio do tratamento dos doentes pobres, ao consignar:

A Irmandade da Santa Casa da Misericordia, erecta n’esta villa de Fafe, tem por fim o exercicio das obras de misericordia, e designadamente o tratamento das enfermidades que soffrerem, em primeiro logar qualquer dos Irmãos que se ache reduzido ao estado de pobreza; depois os pobres, tanto do concelho como fora d’elle, os quaes irão sendo admittidos conforme os fundos que a Casa tiver para occorrer ao custeamento das despezas.

No artigo segundo, reitera-se a ligação umbilical da Misericórdia ao estabelecimento hospitalar e explicita-se que na base da edificação deste estiveram capitais de conterrâneos residentes no Rio de Janeiro e “outros d’este concelho e fora d’elle”. Igualmente se institucionaliza a designação do Hospital, indicando-se o patrono, que ainda perdura, passados todos estes anos. Reza assim o artigo segundo do Compromisso ou Estatutos:

É destinado para tratamento, tanto dos Irmãos como dos mais pobres, mencionados na artigo antecedente, o edifício em parte construido a expensas de muitos dos nossos patricios residentes no Rio de Janeiro, e outros d’este concelho e fora d’elle, o qual terá a denominação de Hospital Civil de S. José, que será administrado pela Meza da Santa Casa da Misericordia, em conformidade do Regulamento que ha-de fazer parte d’este Compromisso.

Regulamento do Hospital de S. José
O Hospital foi edificado, abriu aos doentes, na sua primeira fase, em Março de 1863, um ano depois da fundação das Irmandade.
Desapossada do seu Hospital, a Santa Casa ficou nessa altura reduzida ao pequeno asilo de Santo António, sedeado na Rua Montenegro e que resultou de um legado do brasileiro Manuel Baptista Maia.
O Regulamento do Asilo de Invalidos de Santo Antonio da Villa de Fafe foi publicado em 1906 (Typ. A. Coimbra), depois de aprovado e discutido em sessão ordinária da mesa da Misericórdia de 06 de Maio desse ano.
O asilo certamente terá evoluído, sendo depois integrado no lar de idosos (lar do Calvário).
A Misericórdia não se acomodou e, privada da sua acção social no campo da sua saúde, logo se voltou para outras necessidades sociais, quer na área da terceira idade, quer no universo da infância e da juventude.
É esta instituição, a maior Misericórdia do distrito de Braga, que está em festa, pelos seus 150 anos.

Uma exposição em 20 de Abril, na Biblioteca Municipal e o lançamento de uma obra monográfica sobre a Santa Casa, em Maio, da autoria de Daniel Bastos, completam o programa comemorativo da auspiciosa efeméride.

quinta-feira, 22 de março de 2012

ARTUR PINTO BASTOS ME CONFESSO


Chamo-me Artur Pinto Bastos.
Há quem me considere o maior jornalista fafense de todos os tempos. Fui cronista privilegiado da primeira metade do século XX, sendo aos meus textos que vão beber as fontes da história local daquele período. Não sei, francamente, não sei. Só a história o dirá.

Participei, com imenso gosto, este fim-de-semana numa fantástica recriação de personalidades marcantes dos finais do século XIX e primeiras décadas do século XX, juntamente com comendadores, capitalistas, políticos, deputados, empresários, gente de múltiplos afazeres mas grande importância. Estivemos no Teatro-Cinema na sexta-feira à noite; no Clube Fafense e pelas ruas da cidade na tarde de sábado e no domingo à tarde na esplêndida e majestosa recriação da vinda do Rei D. Carlos a Fafe, juntando milhares e milhares de figurantes e assistentes.
Um momento de cultura popular como há muito não se via!...

Nasci no lugar de Sá, na então Vila de Fafe, em 19 de Julho de 1871. O meu pai – José Pinto – partiu para o Brasil, era eu pequeno, e por lá ficou, deixando-me aos cuidados da minha extremosa mãe, Maria de Bastos.
Muito novo ainda, com 19 anos, comecei a trabalhar em artes gráficas, no jornal A Gazeta de Fafe, do meu amigo João Crisóstomo, introdutor do jornalismo em Fafe, que fundaria ainda O Calvário da Granja e O Desforço.

Artur Pinto Bastos no renovado Club Fafense, sábado passado
Com apenas 23 anos de idade, em 24 de Março de 1895, por morte do meu amigo e confrade João Crisóstomo, assumi a direcção do semanário O Desforço, fundado três anos antes, mantendo-me naquelas funções até à minha morte, em 1951.
Foram 58 anos à frente de um jornal.
De facto, foi obra. Foi preciso muita luta, muito sacrifício para angariar o sustento do meu rancho de 22 filhos, fruto do meu casamento de 51 anos com a minha amada Maria Dias Saldanha Pinto Bastos, que Deus haja!
Fiz tudo no jornal e na tipografia: escrevia, compunha, varria a oficina, fazia as cobranças, era o homem para todo o serviço, polivalente.

Republicano “antes do tempo”, ainda na Monarquia, o meu Desforço foi perseguido pelos monárquicos e posteriormente pela ditadura salazarista, o que me fez sofrer imenso, pois tinha de angariar o sustento para o meu rebanho de filhos.

No desfile de domingo, recriando a chegada do Rei D. Carlos, em 1907
Em 1909, fundei uma publicação anual, o Almanaque Ilustrado de Fafe, de que saíram 43 volumes enquanto vivi.
Os artigos que ali escrevi, tal como os do jornal, assumiam um entranhado amor à terra que me viu nascer e que me levou a servir instituições sociais como os Bombeiros Voluntários de Fafe, em que fui graduado e terminei como Comandante Honorário e a Santa Casa da Misericórdia de Fafe, a cuja mesa pertenci várias vezes.

Sempre me considerei indefectível democrata e republicano, e por isso fui combatente da Revolta de 31 de Janeiro de 1891 e saudei calorosamente a instauração da República, em 05 de Outubro de 1910.
Assisti à proclamação da República no Porto e vim de imediato dar a notícia aos meus correligionários de Fafe, onde ajudei a proclamá-la em 9 de Outubro de 1910.
Republicano histórico, tive a hipótese de ocupar lugares de relevo, que nunca aceitei. Poderia ter sido deputado; não quis. Cheguei a ser nomeado administrador substituto do concelho mas recusei. Simpatizante do velho Partido Republicano Português, na altura apelidado de Partido Democrático, fui eleito vereador efectivo da Câmara de Fafe, em 1913. Foi nesse cargo que propus a compra de um barco para o lago do Jardim do Calvário e tive a ousadia de plantar árvores de fruto nos jardins públicos.
Tive grandes amigos no Partido Republicano; o grande Afonso Costa, quando esteve de passagem por Fafe, em 13 de Maio de 1915, teve para comigo deferências que causaram invejas a muitos fafenses.

Durante o fascismo fui perseguido. O Desforço era considerado um jornal desafecto ao regime. Tive de ter muito cuidado, para tornear a censura e evitar ser preso ou ver suspenso o meu jornal.
Eu era o único sustento da numerosa família. Muitas vezes me apetecia ir mais além na crítica ao regime, mas não podia fazê-lo, porque o pão estava em primeira lugar.
Na tribuna real (ali, ao fundo)
Bairrista abnegado, sempre fui amigo dos pobres e das obras locais, para as quais pedi no Desforço e no Almanaque, sobretudo aos nossos emigrantes no Brasil.
Sempre pugnei pela terra que me viu nascer, alegrando-me com o seu progresso.
Fui um grande impulsionador das obras de construção da Igreja Nova, que começaram em 1895 (só acabariam em 1961, 66 anos depois de terem arrancado). Mas também do Hospital da Misericórdia e dos Bombeiros Voluntários.

Gostaria ainda de evidenciar que nas páginas do meu querido O Desforço, passaram acontecimentos fundamentais dos finais do século XIX e da primeira metade do século XX.
Por exemplo:
- A inauguração da linha do caminho-de-ferro ligando Guimarães e Fafe em 1907;
- A proclamação da República em 1910;
- A inauguração da Central Hidroeléctrica de Santa Rita, em 1914;
- A inauguração do Teatro-Cinema, em 1924;
- A inauguração do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, em 1931;
- A criação do Grupo Nun’Álvares, em 1932;
- A fundação das casas do povo nos anos 30 e 40;
- A criação de diversas escolas, o abastecimento de água, a difusão da electricidade e o arroteamento de vias de comunicação pelo concelho, embora em condições que hoje deploraríamos!


Em pose de jornalista, sempre com O Desforço a tiracolo...
 E tantas e tantas notícias de grande e de pequena dimensão, da política, muitas vezes aguerrida e contundente, à sociedade, das manifestações religiosas (como as festas de Antime ou das Neves) ao desporto (os nossos dois clubes, o Futebol Clube e o Sporting Clube de Fafe), todas elas importantes a seu modo para a população que não tinha outros meios de informação (a televisão só viria no final dos anos 50, como sabemos).
É claro que o jornal continuou a ser o repórter da vida de Fafe, e até do país, depois dos anos de 1950.

Todos sabemos que a imprensa é o veículo privilegiado para o melhor conhecimento do que se vai passando em cada localidade.
Por isso me honro ter sido um jornalista que venceu o tempo e ainda hoje é falado, citado e referido.
É a melhor coroa de glória do meu acerado bairrismo…
Eu até escrevia bem! Muito bem, segundo os meus contemporâneos!
Quem sabe se algum contemporâneo amigo, o Artur Coimbra, por exemplo, um dia venha a ressuscitar e coligir os meus textos.
Ficaria muito contente!

Enfim, para concluir, depois de uma vida intensa e longa, morri pobre, aos 80 anos, em 1951, mas deixei à posteridade, segundo creio, um nome honrado.