terça-feira, 4 de junho de 2013

Mais falhanços, reiterada incompetência!...


1. O Governo apresentou o orçamento rectificativo de 2013, que não deverá ser o único, como admite o primeiro-ministro, que, como sempre, “não sabe” se vai ser necessário um segundo documento, porque, nas suas palavras, “não é dono do futuro”. Alguém deste governo “sabe” alguma coisa sobre o que deveria saber? Um estadista não adivinha o futuro, mas antecipa as suas consequências. O que este governo está a léguas de fazer, na sua absoluta e reiterada incompetência para prever o que quer que seja.
O pretexto para esta revisão orçamental é o famigerado “chumbo” do Tribunal Constitucional a três medidas do Orçamento de Estado para este ano. Em vez de aceitar que prevaricou e ultrapassou os limites da legalidade democrática, o que para qualquer governo é absolutamente intolerável, Passos Coelho e “sus muchachos” entraram numa perigosa “cruzada” contra as “forças do bloqueio”, como Cavaco gostava de designar quem se opunha às suas arbitrariedades (porque será que tanto se fala em Cavaco nesta altura, em que se começa a saber quem tudo fez para levar um governo de direita ao poder, em 2011, cumprindo o alegado sonho de Sá Carneiro, de um governo, uma maioria, um presidente, que está a dar no sofrimento que está à vista?!...),  que mascaram a incapacidade genética desta gente para governar o país com os níveis mínimos de capacidade e seriedade política.
Mas, como sempre fez nestes dois anos de alegada governação, em que infligiu aos portugueses o dobro dos sacrifícios que a tróica exigia, mais uma vez, a pretexto deste rectificativo, o governo vai muito além das consequências do “chumbo” do Tribunal Constitucional às medidas ilegais do Orçamento de Estado. O impacto dos efeitos provenientes daquela reprovação totalizam 1.349 milhões de euros. Porém, o total orçamental previsto neste documento ascende a 2.169 milhões.
Que não venham Passos ou Gaspar encher a boca, atirando areia para os olhos dos incautos, que os portugueses vão pagar mais impostos ou ter menos serviços devido à desaprovação do TC. Não: há uma diferença de 820 milhões de euros (é muito dinheiro, para apenas uns meses…) que provém da incompetência e dos sucessivos falhanços das previsões do executivo.
Mas os governantes já atalharam, na curva da sua incapacidade: agora vêm agora falar, metaforicamente, no “desempenho mais negativo do que o previsto” na economia portuguesa nos primeiros meses deste ano.
A este argumento falaz poderia responder qualquer merceeiro da esquina, confirmando que, numa economia absolutamente recessiva, a receita fiscal proveniente da actividade económica só poderá descer. É estulto supor que os impostos poderiam subir, com a economia em estagnação e o consumo privado em queda. Mas foi o que fez o astronómico Gaspar: previu a subida do IRC de empresas a falir e do IVA de uma economia em degradação. Só aumenta o IRS, por ser espoliado na fonte. Resultado: teve de rever em baixa a receita fiscal em 1.600 milhões.
Por outro lado, e em consequência do pântano em que mergulharam o povo português, as despesas sociais tiveram de ser reforçadas, a começar pelo subsídio de desemprego, porque somos cada vez mais um país de gente sem emprego (mais de um milhão de activos), com uma vergonhosa taxa de desemprego jovem (mais de 40%).
Aliás, como é possível há meio ano, no OE 2013, preverem uma taxa de desemprego de 16,4% e agora, passados poucos meses, a reverem para 18,2%? Absoluta ineptidão!
O que significa, em resumo, que é inaceitável e inqualificável mais um fracasso do ministro das Finanças, que, na sua obsessão por ver a realidade numa folha de excell, sem qualquer ligação ao quotidiano, não é capaz de ver o óbvio, o mais comezinho, o mais claro. Não será por acaso que um assessor do ministro da Economia até há duas semanas, Carlos Vargas, classificou Vitor Gaspar de psicopata social: "Na verdade, trata-se de um psicopata social e não de um ministro das Finanças", escreveu, acrescentando que "cada dia que passa mostra que Vítor Gaspar é o ministro das Finanças mais arrogante e mais incompetente desde o reinado de D. Maria II".
Continua sem se perceber como é possível manter no poder um falhado que, numa qualquer empresa, teria sido despedido, por incompetência, logo após a tomada de posse!... Mas talvez tudo isto se compreenda perfeitamente, no contexto da deliberada destruição da economia portuguesa pelo capitalismo financeiro europeu, de que Gaspar é marioneta e Passos o capataz…
 
2. Que este governo está a destruir o país e a economia não resta a menor dúvida. Como não se duvida da absoluta insensibilidade e alheamento com que o governo encara a situação concreta dos portugueses, que não têm culpa dos desmandos que têm sido cometidos pela política e pela banca. Para o governo, é indiferente que haja um milhão de desempregados, dois milhões de pobres, ou milhares de crianças com fome, que apenas conseguem ingerir uma refeição na escola. O sofrimento dos portugueses passa ao lado desta gente.
As pessoas não interessam. Para o governo, é irrelevante se os portugueses têm ou não meios para satisfazer as suas necessidades; se vão para o desemprego ou ficam sem dinheiro para colocarem os filhos na escola ou na universidade. O que importa é cumprir o défice, satisfazer os interesses dos credores internacionais. Fazer o apopléctico “ajustamento”.
Quando Passos Coelho, que se supunha uma pessoa de bem, mas não é, consegue afirmar, sem pedir desculpa, que a «austeridade é a necessária para cumprir o objectivo do défice de 5,5%”, ou que «não há mais austeridade do que aquela que é requerida», na linha do “custe o que custar”, sabendo-se as dramáticas consequências que tal implica, para as pessoas concretas, e não para programas informáticos, demonstra abjecta falta de escrúpulos, ausência de humanismo e de dignidade política e pessoal.
Merece todas as contestações dos portugueses, todas as greves, todas as manifestações. E ainda são poucas.
E merece ser corrido de S. Bento, o mais rapidamente possível. Sem qualquer contemplação! Antes que acabe com o país e o povo português!
 
(artigo de opinião publicado no diário "Correio do Minho", de 3 de Junho de 2013)

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